O PRAZER É TODO MEU

Não me lembro de várias vezes, mas talvez tenham sido.

Estava olhando umas receitas para cozinhar e o Tocha me contou a história do livro de culinária. Ele comprou de um cara que bateu a campainha da sua casa. Quando acabou de comprar, saiu uma mulher de dentro de uma kombi que estava estacionada do outro lado da rua e lhe agradeceu, lhe disse que ele tinha dado uma chance de recuperação de auto-estima para um ex-presidiário que estava tentando mudar de vida. Ela pertencia a uma ong que trabalhava com ele nessa recuperação. Ele ficou satisfeito de ter ajudado. E não se esqueceu jamais.
Ajudar espontaneamente é um prazer indescritível.

Uma vez ajudei um senhor a carregar uma sacola pesadíssima por dois quarteirões. Era recém-chegada em SP, perto da Ogilvy. Quando devolvi a sacola e me despedi, percebi que ele era um mendigo, ele me olhava com um olhar agradecido e interrogativo: você me viu. E me ajudou... por que?
Não consigo me esquecer desse dia. Me marcou.

Antes disso participei de um dia solidário. Minha função era fazer aquelas pinturas faciais nas crianças. Eu sempre tive um lado muito tímido. Um medo estranho de reprovação, de incapacidade de comunicação, da reprovação deslavada das crianças. Tinha pavor de tentar pintar e elas não gostarem do que fiz. Tinha pânico de não conseguir ser simpática o suficiente. Mas não precisei. Elas me desarmaram do meu medo. Na primeira pintura, já tinha uma fila formada. A garota estava tão feliz...

É verdade que ajudar os outros nos faz bem. Nos ajuda. O prazer, é todo meu.