quinta-feira, 24 de julho de 2008

RUA SEM SAÍDA


Eu cresci em uma rua sem saída.
Daquelas à moda antiga, ou pelo menos, como ainda costuma ser no resto do país onde a consciência de rua pública ainda existe. E não o medo e as "vilas". Era ali, naquela pirambeira que fazia a gente correr para pegar a bola. Mas os jogos sempre existiram, a peteca, a queimada, o futebol, a paquera, as turminhas.
Uma rua que representou perfeitamente as classes sociais, os filhos de pais ricos, casados, separados, a mãe solteira e também os pobres. Filhos únicos ou um entre uma penca de filhos. Para mim aquela rua é minha casa. Aquela da minha lembrança, onde quebraram-se braços, aprendeu-se a cair. Foi lá que soube que meu pé era grande, e que o nariz da outra era batatinha. Lá onde quebrei o dente, onde aprendi a andar de bicicleta, onde aprendi a dançar música lenta com os meninos. Foi na rua Canópus que descobri o amor infantil. E um dia saí de lá para conquistar a vida adulta.

Engraçado, o homem que escolhi para viver comigo também cresceu numa rua sem saída. Daquelas à moda antiga...

2 comentários:

Dedinhos Nervosos disse...

Ruas sem saída são sempre um convite a brincadeira e diversão, né? Eu moro perto da Fábrica Garoto e o movimento é grande por aqui. Se fosse menor, com certeza nossas queimadas teriam sido mto mais legais.
Bjos!

Unknown disse...

Rua com uma saida. Ao sair de casa, descia-se a rua, e a vista alcançava as montanhas, a barragem, as casas.
A rua se desdobra. Inicia-se em uma praça redonda. Arvores floridas, crianças brincando, e do outro lado da rua, uma casa, o mato, a pirambeira, a favela.
Rua com saida. A gente entra nela e tem que ir até o fim para poder sair...
Rua onde engravidei, tive filhos, amei, vivi, cresci, entornei-me, recolhi. Rua que abriga a memória de 29 anos vividos ali.
Rua de onde meus filhos saem em busca da vida deles.
Em busca do sonho, da casa, do trabalho, do viver, da construção de uma casa, em uma Rua, que será da memória deles.
Rua da minha história. Tive duas ruas na minha história. A da casa da minha mãe (a mesma até hoje) e a da minha casa (a mesma até agora).