terça-feira, 21 de agosto de 2007

ANONIMATO


Um senhor. Se não estivesse naquela situação... Talvez fosse respeitável. Talvez até tenha filhos, netos, uma casa e um cachorro. Talvez ensinasse aos filhos como tratar os mais velhos, que não se joga lixo na rua e até mesmo que devem, sobretudo, manter a calma no trânsito.
Só que naquela hora todas essas coisas perdiam importância. O senhor estava ali, entre centenas de desconhecidos, subindo a escada rolante da rodoviária de São Paulo, no auge da cabeleira branca. E berrava a todos pulmões "Vai tomar no cú". Repetidas vezes. Dez ou quinze vezes seguidas. Forte. Sem explicar nada a ninguém. Virava para trás e urrava. Incomodados, os passantes se entreolhavam, e claro, buscavam o objeto de tanto ódio. Ninguém esboçava uma reação suspeita. A não ser o velho.
Quando chegou ao topo, voltou, e ainda lá de cima berrou uma última vez "vai tomar no cú". E foi embora. Ainda no anonimato.

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